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Spread bancário: o que é, como é calculado e por que tão alto no Brasil?

Spread bancário: o que é, como é calculado e por que tão alto no Brasil?

Para tratarmos do “spread bancário”, é interessante pensarmos no “spread” de maneira geral. E, para fazê-los, vamos colocar em um exemplo cotidiano:

Pense no dono de um supermercado para entendermos o conceito geral de spread – antes de discutirmos o spread bancário. Ele compra as mercadorias que venderá no mercado, por vezes, diretamente dos produtores daqueles alimentos. Por exemplo: ele compra uma barra de chocolate por R$2,00.

Porém, para disponibilizar essa barra de chocolate no mercado, ele precisa adicionar no seu preço de venda uma série de custos: custo de transporte, custos administrativos, custo do aluguel do imóvel utilizado pelo mercado, salário dos funcionários, entre outros. 

Vamos supor que os custos administrativos somam mais de R$2,00 no custo total.

Mas, para além disso, se o empresário deseja obter lucro, ele precisa, na verdade, colocar uma margem de lucro em cima do preço desse chocolate. Após alguns cálculos, ele conclui que precisa adicionar mais R$1,00 ao preço final do chocolate.

Ou seja, o chocolate será vendido para você, o consumidor final, por R$5,00 e não pelos R$2,00 de custo direto do produtor. Esses R$3,00 adicionais seriam o “spread” dessa operação.

Vamos entender em maiores detalhes o que é o spread no contexto bancário, como calcula-se e por que é tão alto no Brasil.

O que é spread bancário?

O spread em si, fora do contexto bancário, pode ser explicado em termos simples como a diferença entre o preço de compra e o preço de venda em algum tipo de operação financeira.

No caso especificamente do spread bancário, estamos falando da diferença da taxa de captação e a taxa de empréstimo definida por um banco. 

Na prática, seria, por exemplo, quanto o banco cobra de alguém que está fazendo, por exemplo, um empréstimo pessoal e o quanto ele pagaria para essa mesma pessoa se ela investisse na sua poupança.

Ou seja, se um banco em questão pagasse 4% ao ano na poupança – ou em alguma renda fixa, como um CDB – para uma pessoa e, ao mesmo tempo, cobrasse um juros de 24% no empréstimo pessoal, estamos falando de um spread de 20%. Esses 20% serão o “lucro” obtido nessa operação pelo banco.

Como calcular o spread bancário?

Para calcular o spread bancário, é preciso levar em consideração uma série de despesas, além do lucro que a instituição financeira deseja obter. Os principais fatores do cálculo são:

  • Inadimplência
  • Impostos diretos
  • Custos administrativos
  • Compulsório e encargos
  • Lucro previsto pela instituição

Qual é o spread bancário no Brasil?

Segundo relatório do Banco Central, o spread bancário médio mais recente chegou a 17,7 pontos porcentuais. Sendo esse um valor alto considerando que quanto maior a taxa de juros menor é a circulação de dinheiro no mercado. 

Ou seja, se o spread bancário é muito alto, algumas atividades econômicas se tornam menos atrativas e os consumidores tendem a comprar menos. Sendo, dessa forma, prejudicial para a economia na totalidade.

Por que o spread bancário é tão alto no Brasil?

O Brasil é, atualmente, um dos países com maior spread bancário do mundo todo. Mas esse fato pode ser explicado por fatores que são de acessível conhecimento e entendimento:

  1. Alta inadimplência

Além de ter uma das maiores taxas de spread, o Brasil também possui uma das maiores taxas de inadimplência do mundo. Ou seja, as pessoas devedoras por vezes não pagam suas dívidas.

  1. Concentração bancária

O Brasil possui uma alta concentração bancária, sendo as 5 maiores instituições financeiras correspondentes a 80% do mercado, enquanto em países como os Estados Unidos, essa taxa cai pela metade.

  1. Impostos

Os impostos cobrados nas operações bancárias são relativamente altos e numerosos, tornando-as custosas para o consumidor final

O que compõe o spread bancário?

O spread bancário é composto por diversos conceitos e taxas que quando relacionadas, levam ao cálculo do spread. Portanto, confira!

Custo administrativo

Os custos administrativos como despesas do banco e salários de funcionários devem ser englobados pelo spread já que esse representa uma fonte de retorno ao banco pelos empréstimos feitos.

Inadimplência

Pelo fato de existir risco de não receber de volta o valor emprestado, a taxa de inadimplência tem peso na hora do cálculo do spread bancário.

Lucros

O lucro representa o valor líquido do spread que fica no banco e que vai servir de fato para distribuição para os acionistas.

Compulsório, FGC e encargos fiscais

O Banco Central tem o objetivo de controlar o dinheiro que está em circulação na economia, portanto, retém parte dos depósitos captados por todos os outros bancos. Dessa maneira, é possível compor o Fundo Garantidor de Créditos que mantém a rotatividade da moeda. 

Impostos diretos

O Imposto de Renda (IR), o Imposto sobre Operação Financeira (IOF), o Programa de Integração Social (PIS), o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) são impostos que impactam diretamente sobre o spread bancário.

Vale ressaltar que, cada uma das parcelas de valores citadas acima possuem pesos diferentes na composição do spread bancário e portanto, tem mais ou menos impacto no valor da média de spread entre os bancos.

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    Jacinto Neto
    Jacinto Neto Analista CNPI e sócio do Funds Explorer
    Formado em administração pública pela FGV-SP, mestre em Finanças e Controladoria pela FIPECAFI, analista CNPI e sócio do Funds Explorer. Possui experiência maior que 5 anos, trabalhando com estratégia de investimentos, planejamento e modelagem financeira, além de análise de fundos de investimento imobiliário.

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