O Brasil vive um momento singular no agronegócio. Recentemente, o país se consolidou como o maior produtor mundial de carne bovina, reforçando sua posição de liderança global na produção de alimentos. Esse protagonismo não é pontual: ele reflete uma cadeia produtiva cada vez mais estruturada, com ganhos de eficiência, escala e acesso a mercados internacionais. Para o investidor, isso abre espaço para olhar com mais atenção para veículos que se beneficiam diretamente desse setor, como os FIAGROs.
Ao mesmo tempo, o cenário macroeconômico segue desafiador, especialmente no que diz respeito aos juros. Segundo o Relatório Focus de 19 de dezembro de 2025, a mediana das expectativas para a taxa Selic em 2026 está em 12,25%, acima do que se projetava semanas atrás, enquanto para 2027 a estimativa é de 10,50%. Ou seja, mesmo com expectativa de queda ao longo do tempo, os juros devem permanecer elevados por mais tempo no Brasil. Em ambientes como esse, ativos indexados a CDI ou a índices de inflação continuam chamando a atenção de investidores que buscam renda e previsibilidade.
É justamente nesse contexto que os FIAGROs ganham relevância. Esses fundos permitem ao investidor acessar o agronegócio por meio de títulos de crédito, imóveis rurais e participações em cadeias produtivas essenciais, com rendimentos isentos de imposto de renda e forte ligação com juros elevados. Pensando nisso, separei 3 FIAGROs para ficar no radar em 2026, considerando o cenário atual do setor agro, o ambiente de juros e as características de cada fundo.
Lembrando, desde já, que nada aqui é uma recomendação de investimento.
SNAG11 (Suno Agro)
O SNAG11 encerrou outubro de 2025 com Patrimônio Líquido de R$ 628,05 milhões e uma base robusta de 117.543 cotistas, refletindo a consolidação do fundo entre os principais Fiagros do mercado. No período, o fundo elevou sua distribuição para R$ 0,13 por cota, o que representa um dividend yield anualizado de 17,48%, patamar que a gestão sinaliza como referência enquanto o cenário de juros elevados persistir.
A carteira do SNAG11 apresenta inadimplência zerada, além de uma reserva de resultados acumulada de R$ 0,158 por cota, o que contribui para maior previsibilidade nas distribuições. Em termos de indexação, o fundo possui predominância de ativos atrelados ao CDI (90,1%), com uma parcela menor indexada ao IPCA (8,1%), característica que o torna especialmente sensível ao atual ambiente de Selic elevada.
O portfólio é composto majoritariamente por CRAs, mas também inclui ativos imobiliários ligados à logística do agronegócio, como centros de distribuição arrendados à Boa Safra em regiões estratégicas como Sorriso e Primavera do Leste, com contratos de longo prazo. Essa combinação entre crédito e ativos reais confere ao fundo um perfil híbrido, com foco em renda recorrente.
FGAA11 (FG/Agro)
O FGAA11 apresenta um Patrimônio Líquido de R$ 420,91 milhões e encerrou novembro de 2025 com liquidez média diária de R$ 809 mil, destacando-se positivamente dentro do universo dos Fiagros pelo volume negociado em relação ao seu tamanho. No último mês, o fundo distribuiu R$ 0,12 por cota, o equivalente a uma rentabilidade de 1,27% ao mês, correspondente a cerca de 156% do CDI em termos tributáveis.
A estratégia do fundo é integralmente focada em crédito, com 100% da carteira indexada ao CDI, o que reforça sua aderência a um cenário de juros elevados. A gestão mantém uma política ativa de reservas, com R$ 3,76 milhões em resultados acumulados, buscando suavizar eventuais oscilações nos rendimentos mensais.
Setorialmente, o FGAA11 possui forte exposição ao segmento sucroenergético, que representa aproximadamente 60% da carteira, além de diversificação geográfica e recente ampliação da base de devedores, como a alocação no Grupo FRT, com operações nos estados do Paraná, Maranhão e Tocantins. Todos os 17 devedores do fundo permanecem adimplentes, reforçando a tese de seletividade e análise criteriosa de crédito adotada pela gestão.
KNCA11 (KINEA CRÉDITO AGRO)
O KNCA11 é um dos maiores e mais líquidos Fiagros do mercado, com Patrimônio Líquido de R$ 2,19 bilhões, mais de 81 mil cotistas e liquidez média diária de R$ 2,94 milhões. Para os rendimentos de novembro de 2025, pagos em dezembro, o fundo distribuiu R$ 1,01 por cota, equivalente a 94% da taxa DI do período, beneficiando-se diretamente da Selic mantida em 15,00% ao ano.
O fundo mantém uma reserva de resultados próxima de R$ 0,97 por cota, o que contribui para maior estabilidade das distribuições ao longo do tempo. Um dos principais diferenciais do KNCA11 está na sua diversificação de indexadores, que não é exatamente meio a meio, como muitas vezes se menciona.
De acordo com o relatório mais recente, a carteira está alocada majoritariamente em:
- 50,8% atrelados ao CDI
- 44,4% atrelados ao IPCA
- 4,8% indexados à Selic
A parcela indexada à inflação apresenta taxa média de IPCA + 9,35% ao ano, oferecendo proteção inflacionária com defasagem típica de aproximadamente dois meses. Já a parcela pós-fixada segue capturando diretamente o patamar elevado dos juros. Setorialmente, o fundo possui exposição relevante a Bioenergia (33,5%), Citricultura (11,9%) e outros segmentos do agronegócio, com devedores como Raízen, Minerva e Citrosuco.
Considerações finais (não é uma recomendação)
O ano de 2026 tende a manter um pano de fundo bastante favorável para os FIAGROs, especialmente aqueles com foco em crédito. O Brasil consolidou-se recentemente como o maior produtor mundial de carne bovina, reforçando a relevância do agronegócio na economia nacional, enquanto o cenário macroeconômico ainda aponta para juros elevados por um período prolongado, conforme indicam as projeções do Relatório Focus.
Dentro desse contexto, fundos como KNCA11, SNAG11 e FGAA11 apresentam características distintas, mas complementares. O KNCA11 se destaca pelo porte, diversificação e pela combinação entre indexação ao CDI e ao IPCA, o que pode oferecer equilíbrio entre proteção inflacionária e aproveitamento do patamar elevado de juros. O SNAG11, por sua vez, chama atenção pelo perfil majoritariamente pós-fixado e pela previsibilidade dos rendimentos em um ambiente de Selic alta. Já o FGAA11 adota uma estratégia mais concentrada em CDI e crédito corporativo, com foco em setores específicos do agronegócio, o que pode gerar retornos interessantes, ainda que acompanhado de riscos próprios dessa abordagem.
É fundamental reforçar que FIAGROs não são ativos livres de risco. Questões como risco de crédito, concentração setorial, liquidez e mudanças no cenário macroeconômico devem ser cuidadosamente avaliadas. Além disso, expectativas de juros e inflação são, como o próprio nome sugere, projeções, e podem mudar ao longo do tempo.
Portanto, mais do que buscar rendimentos elevados, o investidor deve analisar se esses fundos fazem sentido dentro da sua estratégia, perfil de risco e horizonte de investimento. Este texto tem caráter exclusivamente informativo e não constitui recomendação de compra ou venda. Antes de qualquer decisão, vale sempre aprofundar a leitura dos relatórios gerenciais e, se necessário, buscar orientação profissional.