O agronegócio brasileiro ocupa posição de destaque mundial pela capacidade produtiva e pela relevância econômica que exerce, sendo responsável por parcela expressiva das exportações nacionais. Nesse cenário, os Fundos de Investimento do Agronegócio, conhecidos como FIAGROs, surgem como instrumentos que permitem ao investidor participar indiretamente desse setor por meio da aquisição de cotas negociadas em bolsa. Esses fundos podem direcionar recursos para diferentes segmentos do agronegócio.
Apesar de que parte significativa desse tipo de investimento segue a indexação do CDI, o que pode ser positivo, em função do Brasil ser um país de juros nominais e reais altos, não é a única estratégia possível. Um exemplo é o KNCA11, que possui 51,4% de sua alocação indexada CDI e 42,9% indexada ao IPCA. Essa diversidade amplia as possibilidades de alocação, permitindo que os investidores escolham produtos que se ajustem a seus objetivos de retorno, à tolerância ao risco e à necessidade de proteção frente às variações econômicas. O papel estratégico do agronegócio na economia brasileira reforça a relevância desses fundos como instrumentos de alocação de capital, especialmente para quem busca diversificar sua carteira com ativos de natureza produtiva.
O agronegócio apresenta um ciclo próprio, muitas vezes independente do comportamento de outros mercados, como o de ações ou fundos imobiliários. Essa característica, denominada contra-cíclica, confere aos FIAGROs um potencial de estabilidade relativa dentro de portfólios mais amplos. Essa dinâmica pode contribuir para a redução da volatilidade e da correlação com outras classes de ativos, embora seja fundamental considerar os riscos inerentes ao setor, como variações nos preços de commodities, condições climáticas adversas e mudanças regulatórias.
A diversificação continua sendo um princípio essencial em qualquer estratégia de investimento consistente, e os FIAGROs oferecem uma alternativa para distribuir riscos e aproveitar oportunidades em um dos setores mais relevantes da economia nacional. Por meio deles, é possível obter exposição a ativos de renda fixa, participações empresariais e instrumentos relacionados ao desempenho do agronegócio, combinando o potencial de geração de rendimentos com a dinâmica própria do setor. Avaliar a liquidez, os indexadores utilizados e a política de distribuição de cada fundo é passo fundamental para compreender o comportamento esperado do investimento.
Neste artigo, serão analisados três FIAGROs listados na bolsa: KNCA11, SNAG11 e VGIA11, cada um com estratégias e estruturas distintas de gestão de carteira. Ressalta-se que as informações a seguir têm caráter estritamente educativo e não constituem recomendação de investimento. O objetivo é oferecer ao leitor uma visão informativa sobre o funcionamento desses fundos, suas particularidades e principais pontos de atenção dentro do contexto de diversificação e exposição ao setor agroindustrial brasileiro.
1. KNCA11
O KNCA11 é um dos principais FIAGROs listados no mercado brasileiro. O fundo possui patrimônio líquido de aproximadamente R$ 2,21 bilhões, conta com 79.703 cotistas e apresenta média diária de liquidez em torno de R$ 2,83 milhões. Tais números demonstram já robustez, o que pode fornecer maior segurança ao investidor, especialmente aquele que quer se expor a esse tipo de ativo, mas não deseja investimentos muito arrojados.
Em setembro de 2025, foram realizados investimentos em três novas operações, totalizando cerca de R$ 120 milhões, reforçando a diversificação setorial, geográfica e de contraparte da carteira. A taxa de administração é de 1,20% ao ano, sem cobrança de taxa de performance. Em termos de indexação, 51,4% da carteira está atrelada ao CDI e 42,9% ao IPCA.
Quanto à alocação setorial, os principais segmentos representados são bioenergia, com 36,2%, citricultura, com 11,7%, e proteína animal, com 8,6%. De acordo com dados do Funds Explorer, em 22 de outubro de 2025, o fundo apresentava relação P/VP de 0,93, indicando que suas cotas estavam sendo negociadas com pequeno desconto em relação ao valor patrimonial.
2. SNAG11
O SNAG11 possui atualmente 114.436 cotistas, número que demonstra o crescimento de sua base de investidores e o interesse crescente pelo fundo. O patrimônio líquido é de aproximadamente R$ 626,59 milhões, com relação P/VP de 0,93. Em seu último pagamento, o fundo distribuiu R$ 0,12 por cota, o que corresponde a um dividend yield anualizado de 16,04%. Em agosto de 2025, todos os ativos do portfólio permaneciam adimplentes, sem indícios de riscos relevantes no curto prazo.
Como um dos primeiros FIAGROs híbridos do mercado, o SNAG11 foi estruturado para financiar o agronegócio brasileiro por meio de instrumentos que conciliam retorno e segurança. A gestão adota uma estratégia ativa e diversificada, buscando rendimentos mensais estáveis. Entre os pontos que merecem acompanhamento, destaca-se a concentração no CRA Pulverizado Boa Safra, que representa 52,25% do patrimônio líquido, reforçando a importância de continuidade na expansão e diversificação da carteira. O fundo conta com 264 devedores, o que contribui para a diluição de riscos individuais.
Em relação à composição, 84,2% do patrimônio está alocado em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e 8,1% em ativos imobiliários, mantendo a característica híbrida de sua estrutura.
3. VGIA11
O VGIA11 concentra atualmente sua exposição nos segmentos de cooperativas e distribuidoras de insumos agrícolas. Grande parte das operações presentes em sua carteira apresenta exposição indireta a produtores rurais financiados por essas empresas. O fundo encerrou setembro de 2025 com 80,9% de seu patrimônio líquido alocado, distribuído em 29 ativos, totalizando um investimento de R$ 664,2 milhões. Os recursos remanescentes estavam aplicados em instrumentos de caixa, destinados a eventuais oportunidades de alocação.
No mesmo mês, o fundo distribuiu R$ 0,14 por cota, o que corresponde a uma rentabilidade líquida equivalente a CDI + 2,6% ao ano sobre a cota patrimonial do mês anterior, ou CDI + 3,3% ao ano considerando o preço médio de negociação em setembro. O volume médio diário de negociação foi de R$ 1,6 milhão, e o fundo encerrou o período com 169.106 cotistas. O patrimônio líquido, em setembro de 2025, totalizava R$ 821,3 milhões, com 100% da carteira indexada ao CDI, sendo 41,9% alocada em ativos ligados a distribuidoras e 29,2% em cooperativas.
Entre os pontos que exigem acompanhamento, destacam-se os principais devedores, como Belagrícola e Languiru, em razão de sua representatividade na carteira. O relatório gerencial mais recente indica que o portfólio permanece adimplente e que não há, no momento, riscos adicionais percebidos nos setores investidos para a próxima safra. O foco da gestão segue direcionado à aquisição de novos ativos, com o objetivo de ampliar a diversificação do portfólio.
Em relação às taxas, o fundo cobra 1,15% ao ano sobre o patrimônio líquido a título de administração e gestão, com valor mínimo mensal de R$ 20.000 no primeiro ano de funcionamento e de R$ 25.000 a partir do segundo. Há ainda taxa de performance de 10% sobre o que exceder o CDI, conforme regulamento, provisionada mensalmente e paga semestralmente, em janeiro e julho. A taxa de escrituração é de 0,05% ao ano, com valor mínimo mensal de R$ 3.500 no primeiro ano e de R$ 5.000 a partir do segundo.
Considerações finais
Os FIAGROs vêm se consolidando como instrumentos relevantes de investimento no mercado brasileiro, oferecendo exposição a um dos setores mais dinâmicos e estratégicos da economia nacional. Por meio deles, investidores podem acessar diferentes segmentos do agronegócio, combinando ativos de crédito, participações e propriedades rurais dentro de uma estrutura que permite diversificação e potencial de geração de renda. Cada fundo analisado neste artigo — KNCA11, SNAG11 e VGIA11 — adota estratégias distintas de alocação e gestão, refletindo a pluralidade de caminhos existentes dentro do universo agrofinanceiro. A escolha entre eles deve levar em consideração fatores como indexador, liquidez, perfil de risco e estrutura de custos, sempre à luz dos objetivos individuais de investimento.
O Funds Explorer, que integra a rede da Suno, tem o compromisso de fornecer informações claras e relevantes para auxiliar o investidor na compreensão do mercado de fundos listados, sem qualquer caráter de recomendação. É fundamental destacar que todos os investimentos em renda variável envolvem riscos e que a análise detalhada de cada ativo deve anteceder qualquer decisão de alocação. A avaliação criteriosa de indicadores, relatórios gerenciais e condições de mercado é essencial para que o investidor desenvolva uma estratégia sólida, alinhada a seus objetivos e tolerância a risco.
